Desde há alguns anos que tenho um perfil público na net.
Mas vou recuar mais um pouco, ao tempo em que apenas existia msn ,sapo e pouco mais.
O mundo internaútico era um pouco diferente e havia de vez em quando "cruzamentos" com pessoas interessantes e bons conversadores; ainda não era moda "queria conhecer-te melhor o meu nº XYZXPTO".
Pois cruzei-me com um indivíduo um pouco por acaso pois tinha uma homepage interessante e deixei ficar uma msg no livro de visitas .
Respondeu-me e trocámos endereços de email e começamos a conversar.
A conversa era fluída e para além do banal: conversamos sobre alguns autores portugueses, sobre fotografia e trocámos algumas imagens de paisagens, sobre esoterismo e tarot em particular , enfim conversas com substância.
Falamos sobre nós próprios, das rasteiras que a vida nos vai pregando e também das alegrias que vamos tendo.
Eu gosto de andar a pé e Lisboa é uma cidade que considero favorecida pela luz e pelos recantos que ainda guarda.
Tinha combinado com uns colegas no feriado municipal irmos fazer um passeio até ao castelo e depois ir deambulando pela cidade. Eu gosto muito de fotografia e achei uma óptima ocasião para me treinar em P/B.
Uns dias antes e falando com esse meu amigo/companheiro de muitas noitadas de conversa e como ele é natural do castelo, convidei-o para vir também.
Agradeceu mas começou a engasgar-se e percebi que não estava interessado. Tudo bem.
Passados uns dias e depois de lhe ter mostrado algumas das fotos que tinha tirado perguntou-me se eu gostava de serenatas. "Gosto bastante!".
Então lá me convidou para ir no sábado seguinte a uma serenata que ia haver não me lembro onde. Agradeci e disse-lhe que ia pensar.
E pensei: "Então não quis vir dar um passeio e agora convida-me para uma serenata? Estranho!"
E recusei mas agradeci e "fica para uma próxima ocasião".
As nossas conversas continuaram mas comecei a achar que alguma coisa tinha mudado.
Parecia existir um certo constrangimento onde antes existia à vontade e descontracção.
Até que rebentou a bomba.
"Já falamos um com o outro há tanto tempo (meses) e ainda não nos conhecemos pessoalmente.......Temos que nos encontrar não achas?"
Por acaso não achava mas tinha que ser justa com ele e se me queria ver em carne e osso nada contra.
Combinámos tomar um café ao final do dia porque lhe dava mais jeito e eu aproveitei que tinha um assunto a tratar no Saldanha e lá nos encontramos.
Uma situação que confesso não esperava foi a festa que me fez. Muito contente, muito feliz por finalmente me conhecer.
Um grande elogio "és muito bonita e simpática" e aqui a coisa azedou: então não é que me agarra a mão e começa a fazer festinhas?
Eu fiquei a olhar e a pensar: "este deve estar com febre!" Lá retirei a mão e fingi que não tinha acontecido.
A conversa ,depois destes preliminares , enveredou por um caminho estranho: começou a contar-me que tinha uma amiga com quem costumava sair e que tinham ido um fim de semana para o Alentejo e que passaram a noite toda a conversar.
E eu com isso? Não estava a perceber aonde é que queria chegar e deixei-o falar mais.
Até que como estava muito inspirado chegou ao cerne da conversa: "um dia destes tens que me convidar para jantar na tua casa mas apenas nós!"
Fica à espera, pensei eu. Mas como não o queria magoar porque até tinha uma boa impressão dele como pessoa comecei a olhar para o relógio e disse: "Nem reparei nas horas, desculpa mas tenho mesmo que ir!"
Ofereceu-se logo para me ir pôr onde eu quisesse mas como ia para Entrecampos disse que não valia a pena e despedimo-nos com a promessa de repetir.
Claro que isso nunca aconteceu.
E com o tempo comecei a evitar grandes conversas e acho que ele percebeu bem o motivo.
Fiquei desiludida mas sinceramente nunca me tinha passado pela cabeça jantares românticos em que eu seria a sobremesa, com ele entenda-se.
E com a mania de conhecer pessoalmente o outro se estragou uma óptima relação de camaradagem.
Mas também quem o mandou ir com demasiada sede ao pote? Partiu-o.
C'est la vie.