E lá apareceu muito bem disposto.
Sentámo-nos à mesa, encomendou-se a comida e começou a conversa.
E sem que eu estivesse à espera começou um monólogo surrealista.
" Tens que perceber que eu tenho uma vida muito ocupada e que não posso estar livre quando quero!
E se não atendo o telefone é porque estou numa reunião!
Além de que outro dia me faltaste ao respeito ao não perceber que se eu me esqueci é porque tinha assuntos mais graves em que pensar!"
Eu estava a ouvir este chorrilho de palavras e a pensar: "isto não me está a acontecer!"
Mas apenas tinha começado!
"Tens que perceber que devido às minhas condicionantes não tenho condições de ter uma relação com alguém e neste caso contigo. Além do mais fiquei com a sensação de que não gostas de crianças e de que as minhas filhas não iriam dar-se bem contigo!"
Aqui interrompi-o e apenas disse: "Realmente não gosto de crianças mal educadas . E quanto às tuas filhas parece-me que estás a fazer um filme muito dramático pois se nem sequer uma foto vi.......mas tu lá sabes porque dizes isso!"
Veio a comida e confesso que o que me apeteceu foi levantar-me dali e ir embora. A comida quase que não lhe toquei mas ainda tinha muito mais para ouvir.
"E depois de pensar bastante cheguei à conclusão de que o melhor é parar por aqui antes que haja mais danos ou que tenha que lamentar alguma coisa!"
Fim de discurso.
Eu nem sabia bem o que havia de pensar.
Lá acabou o malfadado jantar e de repente, como já tinha dito tudo e estava livre de mim que devia constituir uma ameaça para as donzelas e para ele próprio, veio-lhe a boa educação ao de cima.
-Já é muito tarde vou-te levar a casa.....
-Obrigada mas não é preciso. Afinal já sou bem crescidinha e nunca precisei de amas.
-Mas eu faço questão....
-Mas eu não.
Silêncio.
Depois rematou: "É a vida!"
Pensamento profundo.
Despedi-me e fui-me embora. Pelo caminho nem conseguia acreditar que me tinha posto a andar com este tipo de argumentos.
Mas a consciência do cavalheiro devia estar pesada pois vá de telefonar para saber se eu estava bem.
Como diz o povo quem não tem vergonha todo o Mundo é seu!
E fui pensando que como os mesmos factos podem ser utilizados a nosso favor quando se tem uma mente doentia e se magoa outra pessoa com a nossa "sinceridade"!
E assim levei uma corrida em osso dum artista português muito sincero e com uma imaginação demasiado fértil!